Restaurantes Populares
O
problema de alimentação e nutrição deveria ser responsabilidade de toda a
sociedade e não somente de cada família ou cidadão. O conceito de segurança
alimentar, com a participação do Estado, das empresas, das famílias e dos
cidadãos, garante a todos o acesso a uma alimentação suficiente e equilibrada.
O conjunto de políticas de saneamento básico, habitação e educação, promove a
melhor distribuição de riquezas e renda e o desenvolvimento sustentável com
equidade, o que possibilita a realização do direito a alimentação para todos 1. Entre as políticas públicas adotadas
para minimizar os problemas sociais, estão principalmente às relacionadas à
alimentação e à segurança alimentar, que passaram a ocupar lugar de destaque no
atual cenário socioeconômico do país 2.
Os Restaurantes Populares são
equipamentos públicos de alimentação e nutrição
instalados em centros urbanos com mais de 100 mil habitantes. Integram
os Sistemas Locais de Segurança Alimentar e Nutricional, os quais são
identificados como um conjunto de órgãos e entidades da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios e pelas instituições privadas, com ou sem
fins lucrativos, afetas à segurança alimentar e nutricional, articulados no
âmbito dos Governos Locais. Nessa perspectiva, os restaurantes devem contribuir
para a consolidação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional -
SISAN, funcionando como instrumento de incentivo, controle e avaliação das
atividades de produção, processamento, distribuição e consumo de alimentos, bem
como das atividades de educação nutricional, inclusão social e cidadania 3.
O principal objetivo do programa
Restaurantes Populares é apoiar a implantação e modernização de restaurantes
geridos pelo setor público municipal/estadual, visando à ampliação de oferta de
refeições adequadas a preços acessíveis, buscando beneficiar a população em
situação de risco nutricional e estimular a formação de sistemas de proteção
alimentar 4.
A existência de restaurantes populares
no Brasil não é tão recente e não surgiu com o Programa Fome Zero, muito
embora, a partir dele tenha se tornado mais conhecida e disseminada. Os
primeiros registros de restaurantes populares no Brasil remontam ao ano de
1917, na Estação Central de Belo Horizonte – MG 5.
As políticas de garantia de
acessibilidade alimentar direcionadas a grupos específicos, tais como os
restaurantes populares foram implementados desde a década de 40, através do
Serviço de Alimentação da Previdência Social – SAPS, iniciativas mais
amplamente difundidas na década de 50 com a criação de restaurantes
universitários e empresariais 6,7.
Em 1950, Juscelino Kubitscheck, então
Governador de Minas Gerais, recuperou a experiência dos restaurantes para
alimentação de operários, estudantes e trabalhadores do centro da cidade, e à
noite, servia para trabalhadores de horário noturno como gráficos, jornalistas
e outras categorias. Esse restaurante foi desativado sendo reinaugurado em 1994
num outro momento da vida nacional, quando imperava o desemprego urbano, a
precariedade do trabalho e o crescimento das ocupações informais, respondendo à
necessidade de assistir grupos mais vulneráveis da população, excluídos do
mercado de refeições por insuficiência de renda 8.
O
Restaurante Popular foi um dos vários instrumentos de intervenção da Política
de Abastecimento e Segurança Alimentar do Município de Belo Horizonte, que já
foi reconhecida nacional e internacionalmente como uma prática inovadora,
eficiente e bem sucedida de administração pública. Tornou-se uma referência no
fornecimento de alimentação a baixos preços, garantindo aos trabalhadores de
baixa renda e à população que transita no seu entorno, alimentação de qualidade
a preço acessível. A implantação dos Restaurantes Populares foi se difundindo
em outros estados, como no Rio de Janeiro e em São Paulo 9.
REFERÊNCIAS
1.
BASTOS VC, ARAÚJO FALV, ALMEIDA MI. Aspectos Alimentares e Nutricionais dos
Usuários do “Restaurante Popular Mesa do Povo”. Saude Soc. v.16, n.1,
p.117-133, jan-abr 2007.
2.
CARVALHO FMA, AMORIM SS,
SILVA MMS, GOMES ST. Investimento Social e Perfil dos
Usuários do Primeiro Restaurante Popular de Belo Horizonte – MG. Reuna -
Belo Horizonte, v.12, nº2, p.21-37 – 2007
3.
BRASIL.
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Restaurante Popular:
apresentação do programa. Brasília, 2007. Disponível em:< http://www.fef.br/biblioteca/arquivos/data/projeto_logico_restaurante_popular.pdf >
Acesso em: 23 jan. 2011
4.
BRASIL.
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Pesquisa de opinião pública: usuários de
restaurantes populares. Brasília, 2005. Disponível em: < http://www.mds.gov.br/gestaodainformacao/biblioteca/secretaria-nacional-de-seguranca-alimentar-e-nutricional-sesan/publicacoes/pesquisa-de-opiniao-publica-de-usuarios-de-restaurantes-populares/Pesquisa%20de%20Opiniao%20Publica%20de%20Usuarios%20de%20Restaurantes%20Populares.pdf/view?searchterm=Localiza%C3%A7%C3%A3o> Acesso em: 19
fev.2011.
5. PROJETO FOME ZERO.
Uma proposta de política de segurança alimentar para o Brasil. Outubro, 2001.
Disponível em: < http://www.fomezero.gov.br/download/livro_projeto%20fome.pdf> Acesso em: 7 mar. 2011.
6.
PESSANHA
LDR. A experiência brasileira em políticas públicas para a garantia do direito
ao alimento. Rio de Janeiro: IBGE, 2002.
7.
NABUCO
MR; PESSÔA MJS. A experiência do Restaurante Popular de Belo Horizonte como um
instrumento de segurança alimentar. São Paulo: Instituto de Cidadania,
2001. (Projeto Fome Zero: Uma Proposta
de Política de Segurança Alimentar para o Brasil).
8.
INSTITUTO
CIDADANIA. Projeto Fome Zero: uma proposta
de política de segurança alimentar e nutricional. Versão 2 para discussão. São
Paulo, 2001.
9.
GOBATO RC, PANIGASSI
G, VILLALBA JP. Identificação
do perfil de usuários de um Restaurante Popular do Município de Campinas.
Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 17(2): 14-25, 2010.
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